A escolha da fonte certa para o seu projeto.

Quando você começar a prestar atenção e a dedicar tempo para a escolha de fontes, suas escolhas vão melhorar.

“Como faço para escolher o tipo de letra certo?”

“O que devo levar em consideração ao escolher fontes para um projeto?”

“Por que se escolhe determinadas fontes para determinados projetos?”

“Tenho um projeto que precisa de uma perspectiva renovada, como posso usar a tipografia para fazê-lo se destacar?”

Todas essas são perguntas que recebi enquanto designer com um amor em específico por tipografia ao longo de minha carreira de 20 anos. Em algumas ocasiões foi difícil expressar em palavras, então sentei para tomar nota de processo pessoal e profissional quando chega a hora de escolher os tipos de letras certos para um trabalho.

Não é um bicho de sete cabeças, mas demanda pensar.

Se você está lendo isso aqui, vou presumir que entende a importância de escolher as fontes certas para um projeto. Do contrário, por que estaria em busca de conselhos sobre como escolher as fontes certas na internet? ;-) Com base nessa suposição, deixe-me compartilhar como eu mesmo escolho tipos.

Fica um aviso: não há nenhum grande segredo aqui, nenhuma gigantesca revelação de meus 20 anos de experiência em design e tipografia, mas pode ser útil ver como outra pessoa lida com o processo de delimitar suas opções. Quando você começar a prestar atenção e a dedicar tempo para a escolha de fontes, suas escolhas vão melhorar.

Quais são seus requisitos técnicos?

Como é o caso com todos os projetos de design, começo ao definir minhas limitações e limites, bem como fazer perguntas. Há requisitos específicos para a aplicação de suas fontes? Você precisa de fontes essencialmente para outdoors enormes ou para contemplar as letrinhas miúdas do jurídico na parte inferior de um anúncio de televisão? Você está criando algo que deveria ser lido em uma tela ou no papel? Seu produto é uma interface de usuário de um app móvel, um longo artigo ou um livro impresso? Você precisará de suporte linguístico específico agora ou no futuro?

Com base em minha experiência, descobri que projetos de branding e design possuem uma miríade de aplicações, de grandes formatos display até textos pequenos auxiliares. Sendo esse o caso, sugiro optar por uma fonte que tenha diversos tamanhos ópticos projetados especificamente para diversos tamanhos de tipos. Uma fonte com tamanhos ópticos tem designs levemente diferentes para grandes formatos display, títulos médios e textos pequenos. Todos os tamanhos ópticos trabalham de maneira uníssona para que a fonte permaneça similar e consistente em todos os tamanhos de aplicação. Há diferentes nomes para os tamanhos ópticos definidos pelo designer da fonte, mas geralmente encontraremos os tamanhos “display”, “deck” e “text” que podem ser encarados como Grande, Médio e Pequeno, devendo ser aplicados de acordo com a necessidade.

Pessoalmente, sou um grande fã de fontes monoespaçadas para informações em tamanho diminuo ou exibição de quaisquer dados. Fontes monoespaçadas são aquelas em que todos os caracteres possuem a mesma largura, comunicando de imediato uma sensação de informação racional, lógica. Utilizo-as com frequência em legendas de fotos, informações legais e sempre que preciso mostrar dados ou fatos de maneira atraente.

Por fim, leve em consideração seu público o quão internacional seu produto pode ser (ou se tornar). Se seus usuários irão ler ou usar as fontes em diversos idiomas, certifique-se de que o suporte linguístico e acentos estão incluídos nas fontes escolhidas. Falando com base em experiência própria: você não vai querer estar na metade de um projeto com uma certa fonte e então perceber que ela não conta com um trema ou acento circunflexo acima dos caracteres certos, o que significa que terá que voltar à estaca zero em busca de uma nova fonte. Vamos não desperdiçar nosso tempo, certo?

Quem é o seu público?

Em tema relacionado ao suporte linguístico, sempre me pergunto quem irá usar minhas criações ou produto: o público-alvo é jovem ou idoso? Habilidoso com tecnologia ou novato? Usa os dispositivos mais recentes ou está um pouco atrás na curva de tecnologia? São usuários de uma geolocalização específica ou estarão pelo mundo?

Como é de se presumir, criar um periódico acadêmico envolve uma estética diferente das figurinhas que poderiam ser usadas no TikTok ou Reels do Instagram. Caso esteja atrás de uma fonte com ar moderno e de acordo com as tendências, certifique-se de conferir o relatório de tendências de fontes de 2023 da Monotype para ver tendências e estilos visuais do mundo todo. Se precisa de uma abordagem mais “clássica”, cogite usar uma fonte serifada como a Cotford de Tom Foley e Monotype Studio, Macklin de Malou Verlomme Monotype Studio ou a Paperback de John Downer e House Industries.

Se você dispõe de um guia de estilo da marca, é claro que precisará seguir suas orientações, mas nada de se desesperar: ainda pode haver espaço para experimentação! Ao longo de minha carreira, me surpreendi ao ver até onde poderia levar as diretrizes da marca ao fazer escolhas bem-informadas ou ao usar as fontes existentes de formas inesperadas.

Outra dica: para me certificar de que não estou só copiando o que todo mundo está fazendo, crio um rápido painel semântico do que outros fizeram no espaço semelhante. Criando uma nova marca para uma empresa de tecnologia? Eu *imploraria* que você não usasse mais uma fonte sem serifa geométrica! Se toda a sua concorrência está usando uma coisa, experimente o oposto completo para destacar seu produto do restante. Todo mundo entrou no bonde da fonte “maluca, descolada setentista, meio Patagônia”? Eu aconselharia escolher algo expressivo que faça seu design se destacar

Opte pelo contraste.

Escolher fontes que contrastam umas com as outras é minha outra abordagem na busca pelos tipos certos. Optar por Helvetica e Futura (duas fontes sem serifa) não gera contraste visual o suficiente para mim, por mais que sejam tecnicamente diferentes (Helvetica é neogrotesca, já Futura é uma fonte sem serifa geométrica).

Minha melhor ideia nessas horas é encontrar fontes criadas pela mesma pessoa e escolher uma fonte serifada e outra sem serifa. Designers têm sua própria abordagem quanto ao design de fontes e isso pode ser notado com frequência entre designs de estilos cuja diferença é óbvia. Mesmo quando duas fontes são de gêneros muito diferentes, descobri que parece haver uma harmonia entre os designs pois a pessoa que as criou é a mesma. Claro que isso não se aplica a todos os designers ou situações, mas com frequência me ajuda a reduzir para um número de fontes semelhantes.

Escolher um par com serifa e sem serifa é uma tarefa quase infinita tendo em vista suas possíveis complexidades, mas minha principal dica é escolher um design de serifa com muito peso e contraste nos traços (serifas grossas ou finas com hastes contrastantes). Assim que a fonte serifada for escolhida, encontre uma sem serifa que gosta e use-a com um peso menor que o padrão. Este peso menor de uma fonte sem serifa pode ser usado de forma a obter um efeito dramático em tamanhos display maiores, uma abordagem pouco comum, mas que dará um toque de frescor ao design.

Crie sua família.

Você encontrará muitos guias para criar uma combinação de fontes, mas eu gosto de criar um trio que me dará flexibilidade máxima para combinar e misturar como bem entender. Escolher um trio nos tamanhos display, text e micro lhe dá espaço o bastante para estabelecer uma fundação tipográfica sólida, bem como espaço para experimentar.

Como exemplo de fontes do mesmo designer (neste caso, dois designers), eu optaria por algo como este trio dos talentos designers da Process Type Foundry: Colfax para aplicações display, Elena para corpo de texto e leituras mais longas, e a fonte monoespaçada Recipient para legendas, texto jurídico e visualização de dados. Caso não ache que uma fonte monoespaçada funcione no seu projeto, recomendo fortemente algo como a Operator que tem o visual de uma fonte monoespaçada, mas ainda retém a proporcionalidade e chama um pouco menos de atenção para si mesma.

 

É preciso prática.

Uma coisa que eu não quero deixar de lado é o fato de que escolher as fontes certas para projetos demanda tempo, prática e experiência. Se não escolher um bom trio de fontes logo de cara, não se abata! Até hoje eu ainda tenho dificuldades com combinação e seleção de fontes, e olha que faço isso há quase 20 anos. Como quase tudo na vida que vale à pena, quanto mais você o fizer, melhores ficarão sua percepção de tipos, sua apreciação de combinações e suas escolhas.

Desejo toda a sorte e SIGAMOS!

Este artigo foi escrito por Doug Wilson, um designer, escritor, cineasta e ciclista residente em Denver, Colorado. Doug trabalhou com marcas como Starbucks, Herman Miller e Virgin Mobile, além de ter falado no The New York Times, NASA Goddard, Condé Nast, TypeCon e TYPO Berlin sobre design, tecnologia e tipografia.

A escolha da fonte certa para o seu projeto.
SE-1-6522
Agency, Branding